segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Algumas questões sobre a depressão: um mal-estar na modernidade


Vincente Van Gogh - 1890

Não se escolhe uma imagem impunemente. Se aqui reproduzo Van Gogh não é só porque o homem sentado em sua cadeira diante de uma lareira (para se aquecer do frio da solidão?) reflete a natureza depressiva: há um certo desespero/desesperança nas mãos sofridas encobrindo os olhos para não enxergar a realidade. 
A transitoriedade da vida, diante da pletora de ofertas que sofre o sujeito, faz com que este não tenha mais um limite definível entre os objetos e as pessoas. Os primeiros são descartáveis e os segundos também. Esta nadificação, este sentimento de tudo ser transitório produz uma escassez de recursos com os quais se pode contar na vida. 
A depressão é um sintoma que acusa uma falha, uma falta e uma perda.
Uma falha porque os sujeitos são compelidos a serem excelentes em tudo e nunca falharem como se tivessem um priapismo psíquico. Um desejo em constante ereção.
Uma falta porque os sujeitos tentam tamponar toda falta existente. É como se fosse uma vergonha deixar de ter algo. Num mundo dos objetos, a falta quer seja de um trabalho, de ter um celular com todos os aplicativos possíveis ou outros gadgets, fazem da pessoa alguém que não é feliz como se a felicidade dependesse de ter e não também do ser. Ser e ter são fundamentais, mas hoje o ter virou prioridade. Aliás, uma característica que leva a depressão é que os objetos ficam sendo prioritários em detrimento das pessoas.
A perda. Muitas depressões são em decorrência de uma perda: no amor, financeira, de uma pessoa querida, de um membro da família. 
A perda de libido é decorrente desta super exigência em ter que ser potente todo o tempo. Fracassar, falhar, faltar ou perder não podem acontecer neste mundo. Esta impiedade contra si próprio leva o sujeito a querer por fim a vida.
A angústia de se sentir sem saída produz inúmeros sintomas: taquicardia, falta de ar, irritabilidade, distúrbios neuro-vegetativos, cefaleias, insônia, medo da morte, pavor noturno, fobias, medo imotivados, tédio, falta de perspectiva, cansaço profundo, enfim, sintomas que vão impossibilitando a pessoa de viver. 
Mas, a depressão já não é, ela própria, uma forma de dizer não à vida? 

Continua...

Um comentário:

  1. Olá Carlos Eduardo,

    Cheguei aqui através de outro blog e gostei muito.
    Também sou analista e artista plástica. Embora siga a orientação junguiana, gosto da psicanálise e tenho me dedicado a estudá-la.
    Gostei da forma como você aborda a questão da depressão neste post, aguardo a continuação.
    Abraço

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